sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada



Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

4 comentários:

  1. Ai eu amo esse poema.. já li tantas vezes e nunca me canso!! ^^

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  2. Toda vez que leio esse texto, penso na minha vida, no que tenho vontade de fazer, e que simplesmente espero acontecer... me dá uma vontade de agir, de buscar!!
    beijos
    estou com blog novo,
    http://decifrando-o-ser.blogspot.com/

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Eu me identifico demais nesse poema, é impossível se cansar de lê-lo mesmo rsrs
    Beta vou dar uma conferida
    bjs a todos =D

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