segunda-feira, 26 de julho de 2010

Balada do Cárcere de Reading


O casaco escarlate não usou,
Pois sangue e vinho são vermelhos;
E sangue e vinho havia em suas mãos
Quando prisioneiro foi feito,
Deitado junto à mulher morta a quem amava
E assassinara em seu leito.

Caminhava entre os Homens Condenados
Com roupa gasta e cor de cinza ;
Um gorro de críquete na cabeça,
E passo ligeiro e jovial
Mas nunca homem vi que contemplasse
Tão ansioso a luz do dia.

Eu nunca homem vi que contemplasse
Com tão embevecido olhar
Aquela puequenina tenda azul
Que os presos chamam firmamento,
E toda errante nuvem que passava
Com suas velas prateadas

Com outros condenados caminhava
Dentro de um círculo semelhante,
E grande ou pequeno imaginava
O crime que ele cometera,
Quando alguém sussurrou atrás de mim:
"Aquele vai ser enforcado".

Cristo! As próprias paredes da prisão eu vi
Girando a meu redor
E o céu sobre a cabeça transformou-se em elmo
De um aço abrasador;
E, embora eu fosse alma a sofrer,
Já nem sequer sentia a minha dor.

Sabia qual o pensamento perseguido
Que lhe estugava o andar,
E por que demonstrava, ao ver radiante o dia,
Tanta angústia no olhar;
O homem matara a coisa amada,e ora devia
Com a morte pagar.

Apesar disso - escutem bem - todos os homens
Matam a coisa amada;
Com galanteio alguns o fazem, enquanto outros
Com face amargurada;
Os covardes o fazem com um beijo,
Os bravos, com a espada!

Um assassina o seu amor na juventude,
Outro, quando ancião;
Com as mãos da Luxúria este estrangula, aquele
Empresta do Ouro a mão;
Os mais gentis usam a faca, porque frios
Os mortos logo estão.

Trecho do poema escrito por Oscar Wilde em 1898

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