terça-feira, 27 de julho de 2010

Voltando à Roma decadente


Há pouco mais de dois milênios atrás, o poeta romano Horácio escrevia sua obra Carminum liber primus(Odes I), e, acredito eu, não passava por sua cabeça que um trecho ali escrito fosse sobreviver por tantos anos e a tantos agentes culturais erosivos, chegando a ser entoado por um número de bocas inimaginavelmente superior ao número de pessoas que habitavam a Roma antiga àquele período.

“Colhe o instante, sem confiar no amanhã” (carpe diem quam minimum credula postero) foi cunhado por Horácio quando a República Romana demonstrava sinais de decadência com sucessivas guerras civis e uma instabilidade social generalizada. A perspectiva de vida, sob aquelas condições e perturbada pelas incessantes lutas sociais, era mínima, conduzindo os citadinos a condições extremas, onde a esperança era um luxo, e o medo uma sabedoria; como bem aconselha no mesmo trecho Horácio: “sê sábia, filtra o vinho e encurta a esperança”.

“Carpe diem” hoje, embora pronunciado em toda esquina, não diz absolutamente nada, perdeu todo o sentido talhado pelo epicurista Horácio."Ademais, ninguém consegue acreditar honestamente que não haverá amanhã – ou agir como se não houvesse – sem um motivo razoável como um acidente, uma bomba ou uma arma apontada à cabeça. Se fôssemos tomados pela idéia de aproveitar o dia como se não houvesse amanhã, provavelmente nos embrenharíamos em alguma patetice suicida da qual, caso sobrevivêssemos, nos arrependeríamos amargamente numa cadeia ou numa cadeira de rodas”.

Aos adeptos desta filosofia, peço apenas que antes de abraçar a poesia envolvente de Horácio, reparem naquilo que realmente funciona, não as palavras escritas, mas a mensagem de desespero contida no texto;podar as esperanças para que o peso das expectativas não nos esmague é uma atitude covarde e fútil. Carpe Diem nunca fez tão pouco sentido como quando dito por um jovem em pleno século XXI.

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