segunda-feira, 26 de julho de 2010
Viver plenamente ou resignar-se?
Não faz muito tempo que eu assisti a um dos mais densos, poéticos e sensacionais filmes brasileiros: Lavoura Arcaica, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, e baseado no livro homônimo de Raduan Nassar. A película aborda tabus e temas de profunda dimensão humana, como a família e as relações de poder entre o "Pai" autoritário, que luta pela estabilidade de sua prole, segundo seus princípios, baseados principalmente na religião, no moralismo; a mulher submissa, e por fim, os filhos, últimos na hierarquia familiar, os quais cabiam as funções de obediência e respeito ao temido "pater familias".
Foi impossível, durante e após as 2 horas e 45 minutos de duração do longa, não analisar e refletir sobre a condição do protagonista e ovelha negra André, que se vê em uma contradição da qual irá esmagá-lo até o âmago de seu ser: a sua criação arraigada à costumes arcaicos e o desejo carnal que nutre por sua irmã Ana. O incesto seria a quebra do fio que unia a família. Era inconcebível continuar as relaçoes cotidianas após tal baque, e isso faz com que o jovem garoto fuja, corra, tentando, de certa forma, manter as raízes pôdres que sustentavam a casa na iminência do desmonoramento, e a não negar o pecaminoso ato de apetecer sua irmã.
A fuga misteriosa de André, e até mesmo a volta, depois de seu irmão Pedro ir buscá-lo, é a escolha de muitos homens e mulheres que não conseguem se desvencilhar deste primeiro círculo social, que é a família, devido seu forte poder ideológico. Vontades são impostas, convenções estigmatizam e limitam; o que prevalece é a escolha do patriarca, ou da "moral", que muitas vezes é a mais pura imoralidade. O incesto entra metaforicamente como tudo aquilo que desafia esse estereótipo de família tradicional, onde o pai é na verdade um ditador, sufocando os filhos.
Pode-se fugir momentaneamente como André, ou até mesmo eternamente, mas viverá sempre preso em um mundo vazio, artificial; e pra que? Vivemos a partir de nossas escolhas, nossos atos, ou sendo controlados por tudo que nos é alheio? Isso é estar condenado a um amor platônico consigo mesmo. Sentir a paixão de sobreviver prevalecer sobre o tradicional, renegar a mesquinharia cultural ao qual se está fadado desde o nascimento: assim poderemos, ao menos, tentar estarmos plenamente vivos. Somos humanos, nao marionetes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário