quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Que a noite termine...


"Apoiava brandamente as faces contra as belas faces do travesseiro que, cheias e frescas, são como rostos da nossa infância. Riscava um fósforo para ver o relógio. Quase meia-noite. É o momento em que o enfermo, que teve de viajar e ir dormir num hotel desconhecido, acordado por uma crise, se alegra ao distinguir debaixo da porta um raio de luz. Felicidade! Já é dia! Daqui a pouco os criados vão se levantar, poderá tocar a campainha, virão prestar-lhe socorro. A esperança de ser aliviado lhe dá coragem para suportar o sofrimento. Ainda agora pensou ouvir passos; os passos aproximam e logo se afastam. E o fio de luz que estava sobre a porta desapareceu. É meia-noite; acabam de apagar o gás; o ultimo criado já se retirou e é preciso ficar a noite inteira sofrendo sem remédio."

Trecho de No Caminho de Swann, de Marcel Proust

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